Victor Hugo Viegas Silva
4 min readOct 12, 2022

--

Uma face desconhecida de Janones: antivax, do diálogo e da escuta. Entrevista de abril de 2021 inédita.

O impacto que André Janones (Avante) tem nas redes sociais no público “popular” só é surpreendente pra quem não acompanhou o debate do auxílio emergencial em 2020. Na época, outubro de 2020, entrevistei o deputado federal sobre isso. Depois que o auxílio acabou durante 2021, os debates mudaram, mas Janones não ficou parado. Continuou fazendo trabalho de formiguinha com sua rede já montada em 2020. Qual foi a principal polêmica em que se envolveu? Justamente a da vacinação. E como ele fazia isso? De forma muito diferente do que faz hoje: com paciência, informações científicas e diálogo.

Quem conhece o Janones de 2020–2021 mal reconhece essa figura que surgiu como o principal troll lulista da campanha, criando polêmica praticamente todo dia numa espécie de bolsonarismo reverso. O que mudou? Não sabemos, mas achamos interessante divulgar essa entrevista feita em abril de 2021.

VS:O que te motivou a começar a falar de vacinas e atacar o movimento antivax?

O que eu pude perceber é que o público do bolsonaro não era muito diferente do meu, muitos comentários começaram a aparecer, pedindo para que eu falasse do tratamento precoce, ou criticando a vacina, um era até padrão “vocês políticos tem de tomar primeiro, caso não aconteça nada daqui X anos, eu tomo”.

Num primeiro momento eu fiquei bem impactado, logo depois entendi que era mera questão de ignorância e má influência, foi ai que eu comecei a rebater essas falácias e incentivar a vacinação, distanciamento, uso de máscaras.

Como temos um alcance semelhante e o presidente escolheu o caminho do caos, me senti na obrigação de contrapor, uma vez que estes remédios podem inclusive agravar a situação ou até mesmo gerar outros problemas. Mas o que eu assimilei é que há movimentos parecidos em todo o mundo, não é uma coisa exclusiva do brasileiro.

VS: Mas inicialmente o pessoal já aceitou bem? Ou teve reações ruins e demorou um tempo?

A vacina foi mais fácil, é muito fácil desmentir as fases levantadas de que “o primo do porteiro do prédio da minha amiga foi vacinado e saiu voando” porque nunca é nada razoável e com fontes. Agora o tratamento precoce é mais complexo, uma vez que as pessoas costumam usar a própria experiência pra atestar eficácia. É muito comum ler “eu te apoio, mas aqui em casa tomamos e estamos todos bem, então discordo”

VS: Que interessante. E aí, o que fazer com essas pessoas que dizem isso? Continuar conversando? E as outras pessoas, no geral, estão abertas? As que não tem experiência mas foram convencidas?

Eu já tive dois comportamentos, o de ser razoável e tentar mostrar que não foi pelos remédios e o de realmente não saber o que fazer, uma vez que é perceptível que nada vai mudar a opinião daquela pessoa.

Nem sempre estão abertas, Victor. As pessoas preferem se apegar a solução fácil, elas acreditam nas histórias das cidades que distribuíram o kit covid e reduziram o número de mortes (quando a gente checa, geralmente não passa de uma mentira e a média de mortes por 100mil chega ser maior que em outros lugares). E elas tem médicos ao lado delas, reforçando a informação de que aquilo funciona sim. Quando eu estou falando do auxílio, as pessoas me dão total credibilidade, entre acreditar em um YouTuber, em um jornal ou em um deputado, elas escolheram acredita em um deputado, até porque a fonte está lá na Câmara.

No tratamento precoce a situação é TOTALMENTE inversa, o médico tem N vezes mais credibilidade que eu, uma vez que as pessoas entendem que é a função dele e ele se prepara para aquilo ali. E no Brasil acontece a “medicina freestyle”, que é cada um fazendo do seu jeito, por convicção ou por estar sendo beneficiado (como sua investigação mostrou)

VS: Entendi. Você consegue conversar com quantas pessoas em média nas publicações que você faz tratando desses assuntos como vacina e tratamento precoce?

Victor, depende muito. As vezes da pra chamar dezenas no inbox, o que é mais efetivo, uma vez que por mais estranho que pareça, muita gente diz que “realizou um sonho” ao falar comigo. Outras vezes eu vou em um ou outro comentário e eles ficam em evidência, pela quantidade de reações, imagino que atinja um bom público. E acaba que as vezes uma pessoa que só tava perdida ali mesmo, consiga se questionar. Essas conversas são provocadas por falas em lives ou por posts ou tweets. A maior parte em publicações relacionadas ao tema, levei muito as discussões pro meu perfil pessoal também, onde eu tinha mais de 100 mil seguidores. E podia compartilhar em grupos de apoiadores que vão me adicionando

VS: Que tipos de grupos?

Grupos de Facebook, onde ocorre a maior incidência de comentários. No Twitter é bem menor e dificilmente é alguém que me segue. No Twitter parece mais uma militância coordenada mesmo. Eu falo, a pessoa começa a me seguir no mesmo instante e a atacar, jurando que o tratamento precoce que vai salvar vidas

--

--